Sobre os fins e as novas construções coletivas...
A Rede 2 de Outubro nasce em 2011 com a articulação de Organizações Não Governamentais - ONGs, movimentos sociais, associações e autônomos pleiteando a construção de uma rede para realizar ações que relembrem o massacre do Carandiru ocorrido em 2 de outubro de 1992, onde, no mínimo, 111 pessoas foram assassinadas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, além de trabalhos com direcionamento de fortificação de instituições estatais e não-estatais como, por exemplo, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo. No decorrer das atividades da Rede 2 de Outubro, aproximadamente em 2014, novas pessoas, trabalhadores (as) e pesquisadores (as) das medidas socioeducativas, foram se inserindo para contribuir no processo e membros antigos foram saindo. Apresenta-se nessa nova dinâmica uma discussão acerca das medidas socioeducativas, as quais não eram pautadas por outros movimentos sociais, associações, ONGs e afins.
A Rede 2 de Outubro nasce em 2011 com a articulação de Organizações Não Governamentais - ONGs, movimentos sociais, associações e autônomos pleiteando a construção de uma rede para realizar ações que relembrem o massacre do Carandiru ocorrido em 2 de outubro de 1992, onde, no mínimo, 111 pessoas foram assassinadas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, além de trabalhos com direcionamento de fortificação de instituições estatais e não-estatais como, por exemplo, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo. No decorrer das atividades da Rede 2 de Outubro, aproximadamente em 2014, novas pessoas, trabalhadores (as) e pesquisadores (as) das medidas socioeducativas, foram se inserindo para contribuir no processo e membros antigos foram saindo. Apresenta-se nessa nova dinâmica uma discussão acerca das medidas socioeducativas, as quais não eram pautadas por outros movimentos sociais, associações, ONGs e afins.
A Rede 2 de Outubro, portanto, passa a direcionar suas discussões e atividades para o encarceramento juvenil, realizando trabalhos com familiares em portas de unidades da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente – CASA, antiga FEBEM, objetivando a coleta, encaminhamentos e publicização de denúncias sobre torturas nas unidades prisionais juvenis como, por exemplo, nos complexos do Brás, Vila Maria e Raposo Tavares; realização de eventos que discutissem o cárcere juvenil e adulto; atividades dentro de unidades da Fundação CASA; panfletagem a respeito da dinâmica dentro das unidades junto ao território onde há unidades prisionais; mostra itinerante de cinema popular sobre encarceramento em massa como uma política de Estado em parceria com coletivo autônomo; rodas de conversas em escolas (ocupadas também) e pólos de projetos sociais, dentre outras atividades. Enfim, desse período em diante a Rede 2 de Outubro assume um novo formato de atuação enquanto coletivo autônomo, abandonando práticas e perspectivas políticas anteriores o que, por consequência, assume um novo direcionamento e formato político que norteiam suas ações.
Considerando toda a história explicitada nesse texto e publicizando as mudanças que o referido movimento social teve, qual a finalidade do encerramento de suas atividades? Embora a Rede 2 de Outubro tenha assumido um novo formato desde meados de 2014, a necessidade da mudança para os atuais membros e membras do coletivo é latente e imediata. Isso se dá porque a construção da Rede 2 de Outubro não representa e não define os atuais membros e membras, uma vez que destoam do direcionamento político e práticas adotadas pela Rede durante seu processo de construção e, mesmo que se tenha novos e novas integrantes, a referência a posturas antigas ainda se mantém, o que não é de todo erro, considerando sua atuação enquanto rede, mas ainda assim pode ser um problema. Há de se considerar, inclusive, que atualmente a Rede 2 de Outubro não trabalha mais como uma rede, mas sim como coletivo autônomo. Diante dos fatos, os mesmos membros e membras que compõem esse coletivo hoje, avaliaram a necessidade de mudanças e, portanto, anunciam o encerramento das atividades da Rede 2 de Outubro, em abril de 2016, reconhecendo a importância que ela teve durante seu período de existência.
Pensando sobre a necessidade de mudança e, mais ainda, a necessidade de um coletivo que paute a discussão acerca das medidas socioeducativas e o encarceramento juvenil, essas pessoas iniciam o processo de organização política a partir de um novo coletivo, Coletivo Autônomo Herzer, que possui perspectiva abolicionista penal, anti-punitivista, anti-estatal, anti-patriarcal, anti-fascista, autogestionado e pautado pela ação direta.
Sobre “Herzer”... Anderson Bigode Herzer, transexual, nascido em 10 de junho de 1962, em uma cidade do interior do Paraná chamada Rolândia. Possuía identidade de gênero feminina, Sandra Mara Peruzzo, o nome dado pelos seus pais. Ainda quando criança, vivenciou o assassinato de seu pai e a morte de mãe, a qual não era muito presente em sua vida. Foi adotada pela sua tia A. e seu tio B. e, desde esse momento, segundo o livro “A Queda para o Alto” (Editora Vozes, 1982) que narra a sua história, se tornou Sandra Mara Herzer. Sofreu com diversas violências: doméstica, física, psicológica, patrimonial e sexual, além das extremas torturas durante o período que esteve presa nas unidades da Fundação do Estadual do Bem Estar do Menor – FEBEM, em especial no complexo da Vila Maria, o qual ficou um maior período. Durante sua trajetória, se apaixonou por Bigode, vivenciando também sua morte, o que também foi um fator determinante para sua transexualidade, segundo o prefácio de seu livro. Foi torturado, inclusive, por esse processo, quando passou a se denominar Anderson Bigode Herzer. Enfim, Herzer teve sua história marcada pela falta de condições para sobrevivência e a encerrou com seu suicídio em 1982.
Por fim, considerando que “mais importante que datas, são pessoas”, o Coletivo Autônomo Herzer inicia suas atividades em abril de 2016 deixando uma poesia a qual transfigura Anderson Herzer, segundo suas palavras em seu livro.
Por fim, considerando que “mais importante que datas, são pessoas”, o Coletivo Autônomo Herzer inicia suas atividades em abril de 2016 deixando uma poesia a qual transfigura Anderson Herzer, segundo suas palavras em seu livro.
A GOTA DE SANGUE
Eu decaí, eu persisti
tentei por todos os meios ser forte.
Lutei contra o tempo,
chorei em silêncio
gritei seu nome ao vento.
Sou filho da gota
fui templo de miséria
meu pai, um perdido
minha mãe, uma megera.
Cresci vendo prantos,
dormi em meio à mata
chorei gotas sanguíneas
sou o pecado, sou a traça.
Eu ouvi um grito de desespero,
vi a lenta corrupção,
vi o olhar do corruptor,
vi uma vida na destruição
eu vi o assassinato do amor.
Tentei, venci, a vitória conquistei
porém um dia faleci.
Hoje estou em sua lembrança
eu sou sua alma oculta
e serei sua esperança.
Eu decaí, eu persisti
tentei por todos os meios ser forte.
Lutei contra o tempo,
chorei em silêncio
gritei seu nome ao vento.
Sou filho da gota
fui templo de miséria
meu pai, um perdido
minha mãe, uma megera.
Cresci vendo prantos,
dormi em meio à mata
chorei gotas sanguíneas
sou o pecado, sou a traça.
Eu ouvi um grito de desespero,
vi a lenta corrupção,
vi o olhar do corruptor,
vi uma vida na destruição
eu vi o assassinato do amor.
Tentei, venci, a vitória conquistei
porém um dia faleci.
Hoje estou em sua lembrança
eu sou sua alma oculta
e serei sua esperança.
Anderson Herzer
[ Essa é a página do Coletivo Autônomo Herzer no Facebook, se puderem dar uma olhada, agradecemos: https://www.facebook.com/Coletivo-Aut%C3%B4nomo-Herzer-174948566237332/?fref=ts ]
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