O ano começou daquele jeito para as trabalhadoras e os trabalhadores dos quatro cantos de São Paulo. No centro histórico, um incêndio criminoso dizimou centenas de barracos na Favela do Moinho, favela que na sequência foi golpeada também com a implosão do prédio que dá nome à comunidade.
Em seguida, a política de “dor e sofrimento”: a tortura “oficial” infligida aos usuários de crack parece ser o lema de boa parte das políticas “sociais” vigentes há tempos em São Paulo. Não pode ser outro o resultado quando naturalizamos os massacres, quando aceitamos que mais de uma centena de presos desarmados e rendidos sejam executados sem que os executores (e muito menos os mandantes do extermínio) sejam responsabilizados e punidos; quando aplaudimos um suposto “revide” a “ataques” contra o Estado, “revide” que vitimou centenas de pessoas, em geral condenadas à pena de morte sem julgamento simplesmente por serem pobres e negras; ou ainda quando poucos se levantam contra os incêndios criminosos que se multiplicam em favelas como estratégia de despejos, a serviço da especulação imobiliária.
A militarização da gestão pública, a criminalização da pobreza, o encarceramento em massa de comunidades pobres, o domínio absoluto dos Estados pelos grandes grupos econômicos: são todas políticas e processos irmanados e complementares que constituem vetores da perpetuação dos massacres que marcam nossa história.
O despejo que segue em curso na Favela do Moinho, a recém-deflagrada “operação” policial na Cracolândia e a invasão policial racista do espaço estudantil na USP pela PM são casos emblemáticos, cuja listagem infelizmente poderia ser ampliada indefinidamente.
No primeiro caso, um incêndio suspeito serve de pretexto para se realizar uma remoção há tanto tempo ensaiada de uma comunidade pobre, constituída principalmente por catadores de papel, que há pouco conseguiu usucapião do terreno localizado na região da Barra Funda (parte da cidade em que foi informalmente declarado que não se irá tolerar a existência de pobres). Como em dezenas de outros casos semelhantes, a alternativa oferecida pelo poder público aos moradores é uma bolsa-aluguel miserável e bastante limitada no tempo, o que revela a total ausência de uma política habitacional real.
No segundo caso, o da chamada Cracolândia, temos a expressão perfeita de uma questão social e de saúde pública da maior importância transformada em caso de polícia, tratada com repressão e com internação compulsória e tendo como pano de fundo a “revitalização” da região da Luz, ou seja, a valorização dos imóveis existentes e dos futuros empreendimentos imobiliários.
No caso mais recente, um estudante é agredido, ameaçado e humilhado por um policial pelo “crime” de ter sido confundido com um não-estudante, exatamente por ser negro. Uma manifestação particular, dentro da USP, de um comportamento racista que é regra cotidiana pelas periferias do país, sobretudo contra jovens pobres e negros. Apesar desse quadro terrível, essa série histórica de massacres tem provocado reações. Diversas organizações sociais estão realizando ações de denúncia, de resistência e de solidariedade, como é o caso do festival de rap Moinho Vivo que acontecerá neste Domingo (22/01), na Favela do Moinho.
A REDE 2 DE OUTUBRO adere a esses movimentos de resistência e reafirma o seu imenso repúdio a essas políticas de massacre e de higienização articuladas contra as populações mais vulneráveis e a favor dos interesses daqueles que há muito tiram seus altos lucros da exploração dessa vulnerabilidade.
REDE 2 DE OUTUBRO – PELO FIM DOS MASSACRES
http://rede2deoutubro.blogspot.com/
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