sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Carandiru, 20 anos: “os Massacres continuarão”


Por Juliana Sada - Para o site www.rodrigovianna.com.br

Não terás medo (…) da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.

Os versos do salmo 91 foram repetidos inúmeras vezes por Sidney Salles naquela sexta-feira, 02 de outubro de 1992. Ele estava no quinto andar do pavilhão 9 da Casa de Detenção quando a Polícia Militar entrou e perpetuaria o maior massacre do sistema carcerário brasileiro. Foram 111 detentos assassinados pela PM após o início de uma rebelião. Com o olhar firme, Sidney relembra que carregou cerca de 35 corpos, obedecendo às ordens dos policiais. “Eu vi uma poça de sangue e fiquei com medo de pisar, não por medo do HIV, e sim porque poderia ser sangue de um conhecido”. Quando tentava entrar em uma cela, encontrou um policial que lhe propôs um desafio macabro. Com um molho de chaves na mão e a cela trancada por um cadeado, disse: “vou pegar uma chave, se abrir, você pode entrar, se não, a gente te executa”. Sidney voltou a recitar mentalmente o salmo 91, que havia lido numa carta enviada por sua mãe na semana anterior. “Ele pegou a chave e fez ‘clac’, a porta abriu”, relembra Sidney.

O Massacre do Carandiru já virou filme, livro, seriado e músicas. A antiga Casa de Detenção foi quase inteiramente demolida e o governo já teve tempo de transformar o local num parque, com biblioteca e escolas técnicas. Só não houve tempo para que os agentes responsáveis pelo massacre fossem punidos. Ao contrário, os policiais envolvidos no massacre seguem nas ruas e sendo premiados pelo governo, com cargos de comando. O atual comandante da Rota (unidade de elite da PM), assim como seu antecessor, é réu no processo do Carandiru. Salvador Modestio Madia, que deixou o comando nesta semana, é acusado diretamente por 78 das 111 mortes. Já o atual comandante, Nivaldo César Restivo, responde por lesão corporal grave.

Não só apenas os indivíduos diretamente envolvidos seguem na ativa como a estrutura repressiva do Estado segue fortalecida. O padre Valdir Silveira, coordenador da Pastoral Carcerária, chama a atenção para a necessidade de mudanças estruturais. “Ou você põe no banco de réus quem comanda, ou você vai culpar apenas quem está na ponta”, avalia Silveira.

A violência policial pode ser medida pelos números alarmantes de mortes em supostos confrontos. A letalidade da Polícia Militar paulista está entre as mais altas do mundo. De 2006 a 2010, foram 2.262 mortes em supostos confronto com a PM. Nos primeiros cinco meses deste ano, somente a Rota matou 45 pessoas, 104% a mais que em 2010. Apesar de corresponder apenas a menos de 1% do efetivo, a Rota responde por 20% das mortes cometidas pela Polícia.

Já dentro das prisões os massacres agora ocorrem à conta gotas. Entre 1999 e 2006, foram cerca de 3.200 mortes dentro das penitenciárias do estado de São Paulo, uma média de 457 por ano. Fora das prisões, os massacres também seguem. Em maio de 2006, após ataques de um grupo criminoso na cidade de São Paulo, cerca de 505 civis foram assassinados na cidade. O perfil dos mortos era similar: jovem, pardo, pobre e morador da periferia. O episódio ficou conhecido como “Crimes de Maio”.

Débora Maria da Silva teve um filho assassinado em 2006 e hoje coordena o grupo Mães de Maio, que luta em busca da verdade e por justiça. Seis anos após a morte de seu filho, Débora conseguiu a exumação do corpo para que se investigasse as causas de sua morte. Para Débora, o Estado foi e segue sendo omisso no caso, além de tentar tratar o caso como “passado”. O Mães de Maio tenta criar um memorial às vítimas mas sem sucesso: “o governo não quer lembrar dessa mazela”, critica Débora.

O direito à memória também está em pauta no caso do Massacre do Carandiru. O parque que foi construído no local da penitenciária não possui qualquer indicação do que ocorreu no local. O padre Silveira defende que haja ao menos uma placa no local para “provocar quem vai no parque: aqui é um cemitério”. O padre propõe que o dia 2 de outubro seja considerado o dia de luta contra os massacres.

Hoje, numa cadeira de rodas e como pastor evangélico, Sidney Salles afirma ter perdoado os autores do massacre mas tampouco acredita que possa haver justiça. “Os massacres continuarão acontecendo constantemente. Enquanto não acabar os massacres, a periferia vai sofrer”. Débora Maria da Silva concorda e pede punição aos responsáveis: “nós queremos viver, nós queremos justiça. Não há paz e não haverá paz, enquanto não houver justiça. A ditadura segue viva”.



Atos contra a impunidade marcam 20 anos do Massacre do Carandiru


Série de manifestações tem início amanhã com o desfile do 'cordão da mentira' com o tema 'Quando vai acabar o genocídio popular?'


São Paulo — A Rede Dois de Outubro, formada por diversas organizações de direitos humanos e movimentos sociais de São Paulo, inicia amanhã (29) uma série de atos em memória dos 20 anos do massacre do Carandiru, quando 111 presos foram assassinados pela tropa de choque da Polícia Militar. Até hoje ninguém foi responsabilizado pelas mortes. Os atos pretendem questionar a violência e a impunidade do Estado, além de marcar o dia dois como o dia pelo fim dos massacres, em memória das vítimas do Carandiru e de outros massacres, como os ocorridos em maio de 2006.

De acordo com o advogado da Pastoral Carcerária, Rodolfo Valente, as ações são parte de um processo iniciado no ano passado. Na ocasião, diversos movimentos sociais e de direitos humanos se juntaram na Rede Dois de Outubro, com o objetivo de debater e promover ações visando a reformulação das políticas de Estado em segurança pública e pelo fim da lógica de repressão e extermínio da população pobre.
Na coletiva de hoje, a Rede lançou um manifesto pelo fim dos massacres, em que afirma que “o Massacre do Carandiru não é fato isolado no tempo. Sucedeu e foi sucedido por milhares de massacres contínuos que, a serviçodos processos produtivos voltados aos altos lucros de alguns poucos donos do país, moeu e exterminou milhões de brasileiras e brasileiros oriundos das camadas mais populares. Não apenas faz parte de uma história de 512 anos de massacres contra nossa população mais pobre, como também é símbolo da infeliz convergência de duas políticas bárbaras de Estado que ainda hoje vigoram plenamente: o extermínio e o encarceramento em massa.”

Para a coordenadora do movimento Mães de Maio e da Rede Nacional de Familiares de Vítimas de Violência Policial, Débora Maria da Silva, é muito importante lembrar aqueles que foram mortos pela violência do Estado como parte da luta contra a impunidade e por mudanças estruturais na área de segurança pública. “Temos de agir para que isso não se repita, para que nenhum outro massacre aconteça. Além disso é preciso acabar com o encarceramento em massa, por que isso é um verdadeiro cultivo da violência. Nós vamos para a rua lutar por mudança nesse sistema. Os 20 anos são uma parte do processo”, diz Débora.

A primeira atividade da semana será o cordão da mentira, amanhã, com o tema “Quando vai acabar o genocídio popular?”. A concentração será às 11h, no Largo General Osório, ao lado da estação da Luz. O trajeto se dará pela rua do Triunfo, indo para o viaduto Santa Ifigênia, subindo pela rua Liberó Badaró até os viadutos Brigadeiro Luis Antônio e Dona Paulina e depois Praça da Sé.
O Cordão da Mentira é um bloco carnavalesco que trata de temas políticos e sociais de forma bem humorada. O primeiro desfile teve como tema “Quando vai acabar a ditadura civil militar?” e juntou cerca de mil pessoas no 1º de abril deste ano, data do golpe militar.

Na terça-feira (2), será realizado um ato ecumênico na Catedral da Sé a partir das 15h30, seguido de ato político. Depois, os manifestantes marcham até o Tribunal de Justiça de São Paulo e a Secretaria de Segurança Pública. Nos dois locais haverá atos político-culturais.

No outro sábado, 6 de outubro, a partir das 11h, será realizada a Caminhada Cultural pela Paz pela Liberdade, no Parque da Juventude, construído no local onde ficava a Casa de Detenção do Carandiru, após sua demolição. Nesse dia, a Rede pretende questionar o “apagamento” da memória do presídio e do massacre, já que não há no local nenhuma menção ao ocorrido.

COMEÇA HOJE! “SEMANA 2 DE OUTUBRO”

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA “SEMANA 2 DE OUTUBRO”


SEXTA-FEIRA, 28/09, às 9:30hs – COLETIVA INTERNACIONAL DE IMPRENSA no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (Rego Freitas, 530 - Sobreloja )

9h30 - Lançamento Oficial do “Manifesto Pelo Fim dos Massacres”, da Rede 2 de Outubro

10h - Coletiva Internacional de Imprensa no Sindicato dos Jornalistas, com a participação de:


David (integrante da Pastoral Carcerária, sobrevivente do Massacre do Carandiru)

Pe. Valdir Silveira (Coordenador Nacional da Pastoral Carcerária e Rede 2dO)

Débora Maria da Silva (Coordenadora das Mães de Maio, membro da Rede Nacional de Familiares)


SÁBADO, 29/09, às 11:00hs – DESFILE DO CORDÃO DA MENTIRA: “Quando vai acabar o Genocídio Popular?”

11h – Concentração no Largo General Osório (próximo à estação da Luz do metrô)


TERÇA-FEIRA, 02/10, às 15:00hs - DIA PELO FIM DOS MASSACRES na Praça da Sé

15h – Ato Ecumênico na Catedral da Sé

15h45 - Ato Político-Cultural na Praça da Sé


SÁBADO, 06/10, às 11:00hs – CAMINHADA CULTURAL PELA PAZ E PELA LIBERDADE


15h – Concentração na frente da Biblioteca do Parque da Juventude (próximo à estação Carandiru do metrô)







Júri do caso Carandiru é marcado para janeiro de 2013


Vinte e oito réus serão julgados no dia 28 de janeiro do ano que vem pelo massacre de 1992 na Casa de Detenção

O Estado de S. Paulo

Texto atualizado às 22h10.   SÃO PAULO - A 2ª Vara do Júri marcou para o dia 28 de janeiro do ano que vem o julgamento de parte dos réus acusados de terem participado do chamado massacre da Casa de Detenção do Carandiru, no dia 2 de outubro de 1992, que deixou 111 detentos mortos. A decisão foi do juiz José Augusto Nardy Marzagão e ocorre às vésperas do caso completar 20 anos.

O julgamento deve ocorrer no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste. O juiz do caso negou o pedido da defesa de realizar o confronto balístico das armas. Segundo o Instituto de Criminalística, o tempo decorrido desde que o episódio impossibilita a realização do exame. Nesse dia irá a juri somente a tropa comandada pelo capitão Ronaldo Ribeiro dos Santos, que atuou no 2º pavimento, comandando 26 homens. Eles são acusados de matar 15 pessoas. 

Vinte e oito réus serão julgados: Ronaldo Ribeiro dos Santos, Aércio Dornellas Santos, Wlandekis Antônio Cândido Silva, Roberto Alberto da Silva, Joel Cantílio Dias, Antonio Luiz Aparecido Marangoni, Valter Ribeiro da Silva, Pedro Paulo de Oliveira Marques, Fervásio Pereira dos Santos Filho, Marcos Antônio de Medeiros, Haroldo Wilson de Mello, Luciano Wukschitz Bonani, Paulo Estevão de Melo, Roberto Yoshio Yoshicado, Salvador Sarnelli, Fernando Trindade, Antônio Mauro Scarpa, Argemiro Cândido, Elder Taraboni, Sidnei Serafim dos Anjos, Marcelo José de Lira, Roberto do Carmo Filho, Zaqueu Teixeira, Osvaldo Papa, Marcos Ricardo Polinato, Reinaldo Henrique de Oliveira, Eduardo Espósito e Maurício Marchese Rodrigues.

O julgamento vai ocorrer por etapas, sendo divididos de acordo com os pavimentos onde morreram os detentos do Pavilhão 9, do Carandiru. O prédio tinha 5 pavimentos e cada tropa atuou em um deles. Os processos vão diferir conforme o número de mortos ocorridos em cada um dos pavimentos. O 2º Pavimento, comandado pelo capitão Valter Alves Mendonça, foi o que registrou maior número de mortos. Foram 73 no total.

Ubirantan. Em 2001, o coronel Ubiratan Guimarães foi condenado a 632 anos de prisão por comandar a ação no Carandiru, mas em fevereiro de 2006 o Tribunal de Justiça de São Paulo reinterpretou a decisão do 2.º Tribunal do Júri e decidiu absolver o coronel. Ubiratan foi morto em setembro de 2006 com um tiro na barriga, em seu apartamento nos Jardins, região nobre de São Paulo.

Carandiru. A Casa de Detenção foi inaugurada em 1956 pelo então governador Jânio Quadros. O projeto inicial era de abrigar até 3.250 presos, mas com o passar dos anos a capacidade máxima foi  ampliada para 6.300. No início da década de 90, a população oscilou perto dos sete mil.




quinta-feira, 27 de setembro de 2012

CARANDIRU, 20 ANOS: OS PAVILHÕES CAÍRAM, MAS A MEMÓRIA E O SOFRIMENTO CONTINUAM...


Confiram excelente matéria de José Francisco Neto e Jorge Américo para o Brasil de Fato!

Pavilhões caíram, mas muralha invisível esconde história do massacre


 “Incinerei muitas coisas lá do Carandiru depois da implosão. E foi até gente morta dentro do caminhão de lixo”, declara ex-funcionário da Limpurb 

27/09/2012
Jorge Américo e José Francisco Neto - da Reportagem

Por volta das 19 horas do dia 2 de outubro de 1992, véspera das eleições municipais, uma viatura da Polícia Militar deixa as dependências da Casa de Detenção do Carandiru, no bairro paulistano de Santana. O veículo segue rumo ao hospital, carregando oito corpos perfurados com tiros de metralhadoras, fuzis e pistolas. Na sequência, outros 103 corpos deixam a unidade prisional. Ao todo, 111 mortos – segundo a contagem oficial. Todos detentos do pavilhão 9. Desses, 51 ainda não haviam completado 25 anos de idade.
Ainda hoje, passados 20 anos do episódio que ficou mundialmente conhecido como o Massacre do Carandiru, suspeitas não confirmadas sugerem um número de vítimas maior que o divulgado pelas autoridades. “Incinerei muitas coisas lá do Carandiru depois da implosão. E foi até gente morta dentro do caminhão de lixo.” A declaração é de V.G.V., ex-funcionário da Limpurb (órgão gerenciador dos serviços de limpeza urbana prestados na cidade de São Paulo).
V.G.V. sempre viveu no bairro de Santana. Uma história de 60 anos. Com os vizinhos e colegas de trabalho compartilhou incontáveis notícias extra-oficiais que não puderam ser contidas pelas muralhas. Talvez a mais intrigante seja a suposta existência de uma vala clandestina. “Tinha um cemitério debaixo de um porão, teve muita morte. Tinha um cemitério clandestino no pavilhão 9. Quando morria gente, eles jogavam lá pra baixo”, recorda. A presença da Casa de Detenção causava certo incômodo aos moradores do bairro, mas a paisagem começou a mudar em 2002, quando os prédios do complexo foram demolidos para dar lugar ao Parque da Juventude. “Aqui ficou um lugar bom, porque era muito pesado. A vizinhança via o presídio como um negócio abandonado, estranho. Por dentro era tudo estragado, derrubado. As pessoas muito maltratadas”, relata V.G.V., enquanto faz sua caminhada matinal sobre um extenso gramado rodeado de árvores que parecem aguardar ansiosas pelo fim do inverno para recuperar a folhagem natural.

Parque da Juventude
O parque foi inaugurado em 2003, mas as obras foram finalizadas em 2010. Uma área de 240 mil metros quadrados abriga um complexo poliesportivo, uma biblioteca, uma considerável reserva de Mata Atlântica, entre outros atrativos. Do antigo Carandiru, sobrou um trecho de muralha e ruínas de celas. Os pavilhões 4 e 7 foram mantidos integralmente. Neles estão instaladas duas Escolas Técnicas (Etecs).
Thaire Cristina, 17 anos, ainda não havia nascido quando ocorreu o massacre. Moradora da cidade vizinha de Guarulhos, estuda dança no prédio onde funcionou o antigo Pavilhão 4. Ela descobriu o curso pela internet, “sabia que era um presídio”, mas diz nunca ter se aprofundado no assunto. Seu depoimento indica que se depender da Direção da escola, a história será apagada. “Nunca ninguém aqui falou do que aconteceu. Todos os professores ficam no palco no primeiro dia de aula, falam algumas regras da escola, o que pode e o que não pode, mas nunca ninguém tocou no assunto [do massacre]”.
Embora a implosão dos pavilhões tenha durado menos de 10 segundos, não é tarefa fácil esconder tantos anos de história. Oficialmente denominada Casa de Detenção de São Paulo, a penitenciária do Carandiru foi inaugurada em 1920 e ampliada em 1956, com capacidade de oferecer 3,4 mil vagas. Chegou a conter mais de 8 mil presos, o que lhe rendeu o título de maior presídio da América Latina. Quando encerrou as atividades, a penitenciária tinha população semelhante ou superior à de 259 dos 645 municípios paulistas.

Ubiratan
A invasão do Carandiru foi comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, depois de ter recebido autorização do secretário de Segurança Pública – Pedro Franco de Campos – para agir deliberadamente. Este havia consultado o então governador Luiz Antônio Fleury por telefone, que concedeu poder de decisão ao policial. A Comissão que investigou os excessos cometidos naquele 2 de outubro conclui que não houve negociação e “os PMs dispararam contra os presos com metralhadoras, fuzis e pistolas automáticas, visando principalmente a cabeça e o tórax”.
Entre os envolvidos na operação, apenas o coronel Ubiratan foi a julgamento, sendo responsabilizado por 111 mortes e cinco tentativas de homicídio. Foi condenado a 632 anos de prisão em regime fechado. Por ser réu primário e ter endereço fixo, o coronel conseguiu recorrer da sentença em liberdade. Ironicamente, o pavilhão 9 era específico para réus primários. Cerca de 80% das vítimas do massacre esperavam por uma sentença definitiva. Ainda não haviam sido condenadas pela Justiça.
Mais tarde, a sentença foi anulada. Ubiratan elegeu-se deputado estadual. Em setembro de 2006 foi encontrado morto em seu apartamento, com um tiro no abdômen. Ciumenta, a namorada teria matado “por amor’.
Para o defensor público Antônio Maffezoli, é difícil identificar uma responsabilidade penal das demais autoridades, mas “inequivocamente, responsabilidade civil teria. Todos eles, porque fazia parte da competência do governador e do secretário a gestão da Segurança como um todo. E aí a sua própria culpa por escolher determinadas pessoas para cuidar da situação naquele momento.”
Como o massacre ocorreu um dia antes de a população escolher prefeito e vereadores para o próximo mandato, o número oficial de mortos no massacre do Carandiru só foi revelado uma hora antes do encerramento das votações. As eleições estavam salvas e a ordem mantida.

Novo comandante da Rota participou do Massacre do Carandiru


Nivaldo Cesar Restivo não foi acusado de ter praticado homicídio, mas de lesão corporal grave


Por Bruno Paes Manso, Diego Zanchetta e Marcelo Godoy - O Estado de S. Paulo


SÃO PAULO - O novo comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Nivaldo Cesar Restivo, foi denunciado por participação no espancamento de 87 presos na operação de rescaldo, logo após o Massacre na Casa de Detenção do Carandiru. Restivo aparece ao lado de outros 119 PMs que foram denunciados pela morte de 111 presos na Casa de Detenção, no dia 2 de outubro de 1992.

Ele era 1º tenente do 2º Batalhão de Choque. O 2° Batalhão de Choque não participou da invasão do Carandiru. Atuou em um segundo momento, no chamado rescaldo, quando policiais fizeram um corredor polonês para espancar os presos que estavam rendidos. Segundo o Ministério Público, os oficiais tinham o dever de conter o espancamento causado pelos praças. Foram usados golpes de cassetetes, canos de ferro, coronhadas de revólver e pontapés. Alguns foram feridos por facas,estiletes e baionetas e por mordidas de cachorro. Como os oficiais, de acordo com o MPE, foram omissos, eles foram denunciados.Os promotores apuraram ainda que os oficiais tiraram as insígnias e a identificação dos uniformes, demonstrando "a prévia intenção criminosa".

Segundo a denúncia, durante a invasão, Restivo usava um revólver da marca Taurus, calibre 38, e uma metralhadora Beretta. O novo comandante da Rota, contudo, não foi acusado de ter praticado homicídio, mas foi acusado de lesão corporal grave. Entre os integrantes do 2º Batalhão de Choque, segundo a denúncia, os revólveres foram usados para dar coronhadas nos presos. Restivo é homem de confiança do secretário de segurança do Estado, Antonio Ferreira Pinto.

Restino substituiu o tenente-coronel Salvador Madia, que também foi denunciado na ação penal do massacre do Carandiru, que completa 20 anos no dia 2 de outubro. Madia é acusado de estar presente no 3º Pavimento do Pavilhão 9, onde foram assassinados 73 presos. Ele deixou a função depois de o número de mortos pela Rota ter crescido 45% nos primeiros cinco meses deste ano em relação a igual período de 2011.

No último dia 12, suposto confronto entre policiais da Rota e suspeitos de integrarem a facção criminosa PCC resultou em nove mortes numa ação em Várzea Paulista.



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Massacre do Carandiru é destaque na Bienal de São Paulo - "24 HORAS 111", instalação do artista Nuno Ramos relembrará episódio



Idealizada pelo artista Nuno Ramos,  "24 HORAS 111" é uma instalação sonora que consiste na leitura contínua, por 24 horas ininterruptas, dos nomes dos presos assassinados em 2 de outubro de 1992 pela polícia militar do Estado de São Paulo, em episódio conhecido como o massacre do Carandiru. Esta leitura será levada ao ar, sem qualquer interrupção, pela Mobile Radio (http://mobile-radio.net), entre 0:01 horas e 23:59 minutos do dia 2 de outubro de 2012. Vinte e quatro leitores emprestarão suas vozes para este réquiem sonoro, perpetrando a leitura durante uma hora cada um. 

REDE 2 DE OUTUBRO LEMBRA 20 ANOS DO “MASSACRE DO CARANDIRU”, LANÇA MANIFESTO PELO FIM DOS MASSACRES E COBRA MEDIDAS CONCRETAS




2 de outubro de 1992: uma pequena desavença entre presidiários do pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru se transforma em uma rebelião desprovida de viés reivindicativo ou de fuga. Apesar disso, o Governo Estadual da época determinou a invasão da Casa de Detenção por centenas de policiais militares que exterminaram a sangue frio, no mínimo, 111 pessoas desarmadas e desesperadas. Foi a maior chacina da história do sistema penitenciário brasileiro, fato nomeado historicamente como o “Massacre do Carandiru”.



Só comparável aos grandes massacres indígenas e africanos do período Escravocrata, e aos massacres de grandes rebeliões populares ao longo da toda história do país, como Palmares e Canudos, a “lógica dos massacres” no entanto permanece presente hoje, e até intensificada. A exemplo do que ocorreu em relação às prisões, torturas e assassinatos da Ditadura Civil-Militar brasileira (1964-1988), também em relação ao “Massacre do Carandiru”, ocorrido em pleno regime ‘democrático’, operou-se e ainda se opera uma série de medidas para negar às vítimas e à sociedade o Direito à Memória, à Verdade e à Justiça.



Passadas duas décadas dessa “página infeliz de nossa história”, os tijolos da Casa de Detenção foram deitados ao chão e, no seu lugar, foi erigido o sugestivo Parque da Juventude. Todavia, a construção de um parque para a juventude no lugar de uma unidade de aprisionamento da juventude não significou, infelizmente, qualquer mudança na política criminal e penal do Estado: após todos esses anos, ninguém foi responsabilizado pelos 111 assassinatos! Os principais responsáveis, diretos e indiretos, seguem impunes. O estado de São Paulo e o próprio implicado Estado Brasileiro, portanto, insistem em não cumprir as importantes recomendações feitas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA relacionadas ao ocorrido (http://www.cidh.oas.org/annualrep/99port/Brasil11291.htm).



A questão se torna ainda mais grave quando se observa que, no lugar de desmantelar as estruturas repressivas que desencadearam o massacre e responsabilizar todos os seus executores diretos ou indiretos, a estrutura repressiva segue a cada dia mais fortalecida, e muitos dos responsáveis pelo Massacre têm sido absurdamente promovidos (basta verificar quem é o atual comandante da Rota)[1].



Pior: ainda hoje, divisamos jovens, em regra pobres e negros, sendo perseguidos pelo aparato repressor estatal. Quando conseguem driblar a morte (são cerca de 48.000 pessoas assassinadas no Brasil anualmente hoje), caem na vala imunda e cada vez mais superlotada do sistema carcerário (de 1992 para cá, a população prisional cresceu mais de 400% contra pouco mais de 27% de crescimento da população brasileira).



Diante desse quadro desafiador, a REDE 2 DE OUTUBRO foi composta em 2011 por um conjunto de organizações, movimentos sociais e grupos culturais que partilham desta percepção de que a dinâmica social que produziu o Massacre do Carandiru ainda continua vigente e segue a fomentar massacres cotidianamente. Desde a organização do ato político-cultural em memória dos 19 anos do Massacre do Carandiru no ano passado, a REDE 2 DE OUTUBRO tem promovido reuniões, seminários, debates e outras atividades com o objetivo de denunciar e debater as origens e o significado das terríveis condições de encarceramento, do caráter seletivo do sistema penal e prisional, do uso desmedido da violência pelo Estado com evidente corte racial e de classe, entre outras questões.



Agora chegamos à semana de memória dos 20 anos do Massacre do Carandiru, durante a qual prevemos as seguintes atividades listadas abaixo, de luta pela Memória e Verdade, por Justiça e Transformação desta situação atual. Pelo fim dos massacres!





CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA “SEMANA 2 DE OUTUBRO”:



SEXTA-FEIRA, 28/09, às 9:30hs – COLETIVA INTERNACIONAL DE IMPRENSA no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (Rego Freitas, 530 - Sobreloja )



9h30 - Lançamento Oficial do “Manifesto Pelo Fim dos Massacres”, da Rede 2 de Outubro



10h - Coletiva Internacional de Imprensa no Sindicato dos Jornalistas, com a participação de:



David (integrante da Pastoral Carcerária, sobrevivente do Massacre do Carandiru)

Pe. Valdir Silveira (Coordenador Nacional da Pastoral Carcerária e Rede 2dO)

Débora Maria da Silva (Coordenadora das Mães de Maio, membro da Rede Nacional de Familiares)



SÁBADO, 29/09, às 11:00hs – DESFILE DO CORDÃO DA MENTIRA: “Quando vai acabar o Genocídio Popular?”



11h – Concentração no Largo General Osório (próximo à estação da Luz do metrô)





TERÇA-FEIRA, 02/10, às 15:00hs - DIA PELO FIM DOS MASSACRES na Praça da Sé



15hs – Ato Ecumênico na Catedral da Sé



15:45hs - Ato Político-Cultural na Praça da Sé





SÁBADO, 06/10, às 11:00hs – CAMINHADA CULTURAL PELA PAZ E PELA LIBERDADE



15hs – Concentração na frente da Biblioteca do Parque da Juventude (próximo à estação Carandiru do metrô)






Matéria no SPRESSOSP: Eventos lembram os 20 anos do “Massacre do Carandiru"


No dia 2 de outubro, o maior massacre da história penitenciária completa duas décadas
Por Igor Carvalho para o http://www.spressosp.com.br

Massacre completa 20 anos sem culpados (Foto: Divulgação)
Oficialmente, foram 111 mortos, porém o número é contestado por familiares, advogados, peritos e movimentos sociais. Todos foram assassinados por policiais militares, no dia 2 de outubro de 1992. No Pavilhão 9, estavam desarmados, nus e encurralados, eram alvos fáceis. O maior massacre da história penitenciária do Brasil completa 20 anos sem culpados. Para lembrar o genocídio carcerário, uma série de atos vão ocorrer em São Paulo entre os dias 29 de setembro e 6 de outubro.
Com o enredo “Quando vai acabar o genocídio popular?”, o Cordão da Mentira vai colocar o samba pelas ruas do Centro da capital paulista acompanhado por militantes para um trajeto de importante simbolismo. A concentração do bloco será no próximo sábado (29), às 11h no Largo General Osório, ao lado da estação Luz do Metrô, de lá parte para o Memorial da Resistência, de onde será dada a largada, às 12h. O fim do encontro entre militância e samba será Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), na Praça da Sé.
Na próxima terça-feira (2), às 15h, uma missa interreligiosa será celebrada em frente à Catedral da Sé. Ao fim do ato religioso, que se difere dos cultos ecumênicos por possibilitar que outras matrizes religiosas se manifestem, não apenas as religiões com base no Cristianismo, os militantes vão caminhar até o TJ-SP e encerrar a manifestação na porta da Secretaria de Segurança Pública. O dia passará a ser nomeado como “Dia pelo fim dos massacres.”
Fechando a programação, no dia 6 de outubro, às 15h, no Parque da Juventude, haverá a “Caminhada cultural pela liberdade e pela paz”. Ativistas se unirão a familiares de vítimas e sobreviventes e irão percorrer o entorno do parque, passando pela Secretaria de Administração Penitenciária. Haverá música e há a possibilidade da inauguração simbólica de um memorial em homenagem as vítimas.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cinescadão, dia 29/09, integra mês de atividades da Rede 2 de Outubro


O Cinescadão que acontece no próximo sábado, 29 de setembro, preparou uma programação especial para a galera, dando início às atividades do mês da Rede 2 de Outubro – Pelo Fim dos Massacres. Segue o convite, é só chegar!