Série de manifestações tem início amanhã com o desfile do
'cordão da mentira' com o tema 'Quando vai acabar o genocídio popular?'
São Paulo — A Rede Dois de Outubro, formada por diversas
organizações de direitos humanos e movimentos sociais de São Paulo, inicia
amanhã (29) uma série de atos em memória dos 20 anos do massacre do Carandiru,
quando 111 presos foram assassinados pela tropa de choque da Polícia Militar.
Até hoje ninguém foi responsabilizado pelas mortes. Os atos pretendem
questionar a violência e a impunidade do Estado, além de marcar o dia dois como
o dia pelo fim dos massacres, em memória das vítimas do Carandiru e de outros
massacres, como os ocorridos em maio de 2006.
De acordo com o advogado da Pastoral Carcerária, Rodolfo
Valente, as ações são parte de um processo iniciado no ano passado. Na ocasião,
diversos movimentos sociais e de direitos humanos se juntaram na Rede Dois de
Outubro, com o objetivo de debater e promover ações visando a reformulação das
políticas de Estado em segurança pública e pelo fim da lógica de repressão e
extermínio da população pobre.
Na coletiva de hoje, a Rede lançou um manifesto pelo fim dos
massacres, em que afirma que “o Massacre do Carandiru não é fato isolado no
tempo. Sucedeu e foi sucedido por milhares de massacres contínuos que, a serviçodos processos
produtivos voltados aos altos lucros de alguns poucos donos do país, moeu e
exterminou milhões de brasileiras e brasileiros oriundos das camadas mais
populares. Não apenas faz parte de uma história de 512 anos de massacres contra
nossa população mais pobre, como também é símbolo da infeliz convergência de
duas políticas bárbaras de Estado que ainda hoje vigoram plenamente: o
extermínio e o encarceramento em massa.”
Para a coordenadora do movimento Mães de Maio e da Rede
Nacional de Familiares de Vítimas de Violência Policial, Débora Maria da Silva,
é muito importante lembrar aqueles que foram mortos pela violência do Estado
como parte da luta contra a impunidade e por mudanças estruturais na área de
segurança pública. “Temos de agir para que isso não se repita, para que nenhum
outro massacre aconteça. Além disso é preciso acabar com o encarceramento em
massa, por que isso é um verdadeiro cultivo da violência. Nós vamos para a rua
lutar por mudança nesse sistema. Os 20 anos são uma
parte do processo”, diz Débora.
A primeira atividade da semana
será o cordão da mentira, amanhã, com o tema “Quando vai acabar o genocídio
popular?”. A concentração será às 11h, no Largo General Osório, ao lado da
estação da Luz. O trajeto se dará pela rua do Triunfo, indo para o viaduto
Santa Ifigênia, subindo pela rua Liberó Badaró até os viadutos Brigadeiro Luis
Antônio e Dona Paulina e depois Praça da Sé.
O Cordão da Mentira é um bloco carnavalesco que trata de
temas políticos e sociais de forma bem humorada. O primeiro desfile teve como
tema “Quando vai acabar a ditadura civil militar?” e juntou cerca de mil
pessoas no 1º de abril deste ano, data do golpe militar.
Na terça-feira (2), será realizado um ato ecumênico na
Catedral da Sé a partir das 15h30, seguido de ato político. Depois, os
manifestantes marcham até o Tribunal de Justiça de São Paulo e a Secretaria de
Segurança Pública. Nos dois locais haverá atos político-culturais.
No outro sábado, 6 de outubro, a partir das 11h, será
realizada a Caminhada Cultural pela Paz pela Liberdade, no Parque da Juventude,
construído no local onde ficava a Casa de Detenção do Carandiru, após sua
demolição. Nesse dia, a Rede pretende questionar o “apagamento” da memória do
presídio e do massacre, já que não há no local nenhuma menção ao ocorrido.
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