A Fundação CASA
de Itaquá é uma cadeia que encarcera adolescentes das cidades de
Itaquaquecetuba, Arujá, Guarulhos, Suzano e outras, com capacidade para 63
meninos presos.
A Fundação Casa,
antiga FEBEM, é uma instituição que promove as mais diversas violações de
direitos dos/as adolescentes. Diariamente ocorrem
espancamentos, torturas, humilhações, estupros, entre outras violências mais.
Pouca informação é veiculada na mídia, e o que sai, muitas vezes, é de forma
distorcida, com o intuito de esconder as violências que os/as adolescentes
sofrem lá dentro ou mesmo nos convencer de que ‘lá dentro não tem santinho, então precisam pagar pelo que fizeram
contra o cidadão de bem, o pai de família’. Você já não ouviu este discurso
antes? Pois é, ele sustenta a ideia de que o grande inimigo da sociedade é o
jovem negro, pobre, que mora na periferia, a ideia de que vivemos num clima se
insegurança por causa destes ‘monstros’, e que estamos num país de impunidade. Nada poderia ser mais falso do que estas
afirmações.
Recolhemos
relatos de vários meninos que passaram por situações de violência no centro de
internação de Itaquá:
“Quando
o adolescente chega em qualquer unidade da Fundação Casa recebe como se fosse
um ‘boas-vindas’, é aonde começa a opressão por parte dos funcionários”
“Aconteceu um fato onde dois
menores foram algemados e agredidos, um deles teve a cabeça cortada e o outro
ficou com o globo do olho cheio de sangue”
“Teve uma intervenção onde
os funcionários chegaram agredindo todo mundo com cassetete e barras de ferro,
obrigando a gente a sentar no chão só de cueca, enfileirado e colado nos outros
menores.”
A violência que
os adolescentes sofrem diariamente na Fundação CASA só acabará com o fim do
encarceramento. A função da prisão nunca foi a de reeducar ou ressocializar, mas
de ‘limpar’ a sociedade dos considerados
indesejáveis, que nada mais são do que aqueles que, silenciados através das
gerações, se rebelam ao tentar sobreviver em meio a uma sociedade sem emprego
pra todos, sem educação de qualidade, sem a presença do poder público no acesso
aos direitos básicos –este só se mostra de fato na hora do enquadro ou quando
chega com a algema e o cassetete em mãos, reivindicando a justiça pro rico, que em geral custa a liberdade e a vida do pobre.
Essa molecada
tem saído ainda mais desesperançosa dessas prisões, e não é incomum ouvir de
suas bocas que estão ‘cheios de ódio’.
O que achamos,
sinceramente, que estes adolescentes devolverão à nossa sociedade que clama por
essa justiça sanguinolenta e com sede de
vingança, sempre alimentada por datenas e marcelos rezendes da vida?
Acreditamos que
essa situação só vai mudar se a gente se mobilizar pra denunciar o que vem
acontecendo! Produzimos esse material pra sensibilizar as pessoas que moram
perto do centro Itaquá para pensarmos formas de nos articularmos. Somos a Rede
2 de Outubro, um coletivo anticapitalista e abolicionista penal da cidade
de São Paulo, que nasce em torno do não esquecimento do Massacre do Carandiru e
denunciando a continuidade dos massacres
diários nas unidades prisionais de adultos e adolescentes, por meio de
debates, conversas e atividades em unidades prisionais, escolas e nas quebradas
da Grande São Paulo. Lutamos pelo fim das prisões por acreditarmos que nossa
vida não é caso de polícia; que nossos problemas só pioram quando a solução pra
eles passam necessariamente pelas instituições que massacram diária e
continuamente as pessoas pobres, negras e que moram nas periferias. Não
queremos melhorar as condições das pessoas presas; não desejamos humanizar o
cárcere: desejamos, para muito além disso, uma
vida sem grades, sem polícia, sem a lógica da punição, sem o afastamento e a
morte simbólica (e muitas vezes – questão de tempo – literal) daquelas
pessoas que, mesmo estando encarceradas, insistem em ser tão parecidas conosco
– porque na verdade são.
Nos ajude a
pensar e construir outra sociedade enfrentando essa lógica perversa, que, assim
como foi e tem sido levantada, também pode ser derrubada.
REDE 2 DE OUTUBRO – CONTRA OS MASSACRES
PELO
FIM DA FUNDAÇÃO CASA!
*Texto escrito pela Rede 2 de Outubro para ser panfletado nos arredores da Fundação CASA de Itaqua.
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