terça-feira, 10 de abril de 2012

Vídeo - Carandiru: O massacre ainda não terminou

Aí vai um vídeo da Rede 2 de Outubro, sobre o Massacre do Carandiru e o Sistema Carcerário.
Este material é uma contribuição aos debates em torno dos 20 anos do massacre.
E é, principalmente, um convite a outros movimentos, coletivos e entidades e quem quiser somar, a participar dessa caminhada conosco.


quinta-feira, 5 de abril de 2012

PM DE SÃO PAULO DEVERÁ FICAR AINDA MAIS TRUCULENTA: NÃO PODEMOS ACEITAR!

Recebemos a informação extra-oficial de que a PM de SP deverá ficar ainda mais truculenta a partir de agora, com a confirmação da saída do coronel Álvaro Batista Camilo de seu comando. Embora já tenha assumido, em caráter provisório, o coronel Pedro Batista Lamoso, a tendência é que outro nome assuma em definitivo a partir de maio.

Dentre os nomes cogitados, em meio a fortes disputas internas à polícia, o nome mais cotado para assumir a corporação em definitivo parece ser o do coronel César Augusto Franco Morelli, atual chefe da Tropa de Choque e amigo particular do secretário Antonio Ferreira Pinto. A informação é que os dois são íntimos desde os tempos em que o secretário da Segurança Pública ainda atuava no Ministério Público Estadual.

Morelli não é da corrente do coronel Camilo e, com a sua chegada, todos os postos de comando da PM deverão ser trocados. A linha que vigora atualmente na Tropa de Choque deverá se espraiar por toda a corporação. Dentre várias ações recentes, Morelli e seus comandados atuaram com truculência na região da Luz (vulga “Cracolândia”), em desocupações violentas na USP e no Massacre do Pinheirinho.

A possibilidade de o comandante de recentes massacres executados pela PM assumir o comando de toda corporação parece fazer parte do desejo do Governador Alckimin de premiar justamente aqueles que deveriam prestar contas de seus abusos e de seus crimes.

Em novembro do ano passado, Salvador Modesto Madia, responsável pela execução de 78 pessoas no Massacre do Carandiru (1992), foi nomeado para o comando das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar - ROTA. ROTA que, como já alertamos em nota publicada à época da nomeação, atua nas periferias de São Paulo e que, apesar de não chegar a corresponder a 0,5% de todo o efetivo da Polícia Militar, é responsável por cerca de 20% dos homicídios cometidos por essa corporação.

Nós da Rede Dois de Outubro, dos movimentos populares e de direitos humanos, não podemos aceitar uma polícia ainda mais repressiva e violenta!

Pelo fim dos massacres, exigimos um novo nome minimamente comprometido com direitos e garantias fundamentais, sobretudo daquelas  pessoas mais vulneráveis, característica que o Sr. Morelli já demonstrou inúmeras vezes não ter.


REDE 2 DE OUTUBRO - PELO FIM DOS MASSACRES


quarta-feira, 7 de março de 2012

Homenagem à Irmã Maria Emília Guerra Ferreira

Em 27 de dezembro último faleceu a Irmã Maria Emília Guerra Ferreira, uma personagem singular na luta pelos direitos humanos das maiorias empobrecidas e excluídas em nosso país. Ao longo dos últimos quarenta anos, atuou em diferentes frentes e causas. Entre os anos 70 e 80 erradicou-se em comunidades eclesiais de base na região Nordeste do país levando seu trabalho transformador, fortemente ancorado no movimento da Teologia da Libertação, às populações lá instaladas, afetadas pela seca, pela fome e pelo abandono do Estado. Em São Paulo manteve, até sua morte, uma atuação permanente junto à população de rua, mas foi o trabalho qualificado e incansável que empreendeu com presas e presos no sistema carcerário paulista a partir dos anos 80, o que levou Maria Emília às lutas mais árduas em sua jornada, marcando de modo significativo a história contemporânea das prisões em São Paulo.
Sua primeira inserção no sistema carcerário foi no ano de 1985, levada pelas mãos do Padre Macedo, representante da Pastoral Carcerária à época, passando a atuar durante muitos anos como voluntária na Casa de Detenção do Carandiru, tempo em que vivenciou um dos maiores extermínios cometidos pelo Estado brasileiro pós- redemocratização: o Massacre do Carandiru, em 1992. Como resultado de anos de atuação e reflexão junto a esse universo, Maria Emília publicou, em 1996, o livro A produção da Esperança numa situação de opressão: Casa de Detenção de São Paulo, fruto de sua dissertação de mestrado na PUC/SP, obra de importância ímpar para a memória do sistema prisional brasileiro, e que se encontra hoje esgotado.
 Paralelamente ao trabalho na Casa de Detenção, Maria Emília atuou como psicóloga do hoje extinto Departamento de Saúde do Sistema Penitenciário, se destacando pelo trabalho emancipador realizado com doentes mentais, e também por sua militância incansável pelos direitos das mulheres encarceradas. Maria Emília foi uma importante precursora da luta pelos direitos dessas mulheres, ao chamar a atenção sobre a violência de gênero que o Estado promovia (e promove) contra as presas, a desatenção às suas especificidades, e sobre a iniquidade de direitos entre homens e mulheres também no universo da prisão. Maria Emília foi uma das primeiras pessoas, se não a primeira, a erguer a bandeira pelo direito das encarceradas à visita íntima, direito que só seria s elas garantido no Estado de São Paulo em 2001, 16 anos depois de sua concessão aos homens encarcerados.  
Por sua luta pelos diretos concernentes à saúde dos presos, foi convidada, em 1997, pelo então Secretário da Administração Penitenciária João Benedito de Azevedo Marques, a dirigir o hoje extinto Hospital Central do Departamento de Saúde, o único no sistema para presos e presas soropositivos em estágio avançado. Num tempo em que a AIDS acometia mais fatalmente suas vítimas, e sobretudo a população prisional, Maria Emília reinventou o espaço hospital-prisão nos anos em que o dirigiu, transformando discursos em verdadeiras práxis.
Desde 2009 passou a integrar, na qualidade de conselheira, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, empenhando-se em mais uma luta fulcral à democracia brasileira: o direito à verdade e à justiça.
Sua memória estará preservada não apenas nos feitos que promoveu, mas no coração daqueles em que ela tocou, com vigor, ternura e solidariedade, suas marcas.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Pinheirinho, Cracolândia e USP: em vez de política, polícia! (Por Raquel Rolnik)

Pinheirinho, Cracolândia e USP: em vez de política, polícia!

23/01/12 por raquelrolnik


Domingo, 22 de janeiro de 2012, 6h da manhã, São José dos Campos (SP). Milhares de homens, mulheres, crianças e idosos moradores da ocupação Pinheirinho são surpreendidos por um cerco formado por helicópteros, carros blindados e mais de 1.800 homens armados da Polícia Militar. Além de terem sido interditadas as saídas da ocupação, foram cortados água, luz e telefone, e a ordem era que famílias se recolhessem para dar início ao processo de retirada. Determinados a resistir — já que a reintegração de posse havia sido suspensa na sexta feira – os moradores não aceitaram o comando, dando início a uma situação dramaticamente violenta que se prolongou durante todo o dia e que teve como resultado famílias desabrigadas, pessoas feridas, detenções e rumores, inclusive, sobre a existência de mortos.


Nos últimos 08 anos, os moradores da ocupação lutam pela sua permanência na área. Ao longo desse tempo, eles buscaram firmar acordos com instâncias governamentais para que fosse promovida a regularização fundiária da comunidade, contando para isto com o fato de que o terreno tem uma dívida milionária de IPTU com a prefeitura. O terreno pertence à massa falida da empresa Selecta, cujo proprietário é o especulador financeiro Naji Nahas, já investigado e temporariamente preso pela Polícia Federal na operação Satiagraha. No fim da semana, várias foram as idas e vindas judiciais favoráveis e contrárias à reintegração, assim como as tratativas entre governo federal, prefeitura, governo de Estado e parlamentares para encontrar uma saída pacífica para o conflito.Com o processo de negociação em curso e com posicionamentos contraditórios da Justiça, o governo do Estado decide armar uma operação de guerra para encerrar o assunto.



03 de janeiro de 2012, região da Luz, centro de São Paulo. A Polícia da Militar inicia uma ação de “limpeza” na região denominada pela prefeitura como Cracolândia. Em 14 dias de ação, mais de 103 usuários de drogas e frequentadores da região foram presos pela polícia com uso da cavalaria, spray de pimenta e muita truculência. Em seguida, mais de trinta prédios foram lacrados e alguns demolidos. Esta região é objeto de um projeto de “revitalização” por parte da prefeitura de São Paulo, que pretende concedê-la “limpinha” para a iniciativa privada construir torres de escritório e moradia e um teatro de ópera e dança no local. Moradores dos imóveis lacrados foram intimados a deixar a área mesmo sem ter para onde ir. Comerciantes que atuam no maior polo de eletroeletrônicos da América Latina, a Santa Efigênia , assim como os moradores que há décadas vivem ali, vêm tentando, desde 2010, bloquear a implantação deste projeto, já que este desconsidera absolutamente suas demandas.


08 de novembro de 2011, 05h10 da manhã, Cidade Universitária, São Paulo.Um policial aponta a arma para uma estudante de braços levantados, a tropa de choque entra no prédio e arromba portas (mesmo depois de a polícia já estar lá dentro), sem deixar ninguém mais entrar (nem a imprensa, diga-se de passagem), nem sair, tudo com muita truculência. Este foi o início do processo de desocupação da Reitoria da Universidade de São Paulo, ocupada por estudantes em protesto à presença da PM no Campus. Os estudantes são surpreendidos por um cerco formado pela tropa de choque e cavalaria, totalizando mais de 300 integrantes da Polícia Militar. Depois de horas de ação violenta, são retirados do prédio e levados presos mais de 73 estudantes. Camburão e helicópteros acompanham a ação.

O que estes três episódios recentes e lamentáveis têm em comum?

Os três eventos envolvem conflitos na gestão e ocupação do território. Os três são situações complexas, que demandariam um conjunto de políticas de curto, médio e longo prazo para serem enfrentados. Os três requerem um esforço enorme de mediação e negociação.
Entretanto, qual é a resposta para esta complexidade conflituosa? A violência, a supressão do diálogo, o acirramento do conflito.

Alguém poderia dizer — mas por quê os ocupantes do Pinheirinho resistiram? Por que não saíram imediatamente, evitando os feridos e as feridas da confrontação?

Porque sabem que, para quem foi “desocupado” ou” lacrado” nestas e outras reintegrações e “limpezas”, sobra a condição de sem-teto. Ou seja, para quem promoveu a reintegração ou a limpeza, o fundamental é ter o local vazio, e não o destino de quem estava lá, muitos menos as razões que levaram aquelas pessoas a estar lá naquela condição e seu enfrentamento e resolução. “Resolver” a questão é simplesmente fazer desaparecer o “problema” da paisagem.

Mais grave ainda, nestas situações a suposta “ilegalidade” ( ocupação de terra/uso de drogas) é motivo suficiente para promover todo e qualquer tipo de violação de leis e direitos em nome da ordem, em um retrocesso vergonhoso dos avanços da democracia no país.

Texto publicado originalmente no Yahoo! Colunistas.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

ALGUNS MASSACRES EM CURSO E A REAÇÃO DAS COMUNIDADES VIVAS

O ano começou daquele jeito para as trabalhadoras e os trabalhadores dos quatro cantos de São Paulo. No centro histórico, um incêndio criminoso dizimou centenas de barracos na Favela do Moinho, favela que na sequência foi golpeada também com a implosão do prédio que dá nome à comunidade.
Em seguida, a política de “dor e sofrimento”: a tortura “oficial” infligida aos usuários de crack parece ser o lema de boa parte das políticas “sociais” vigentes há tempos em São Paulo. Não pode ser outro o resultado quando naturalizamos os massacres, quando aceitamos que mais de uma centena de presos desarmados e rendidos sejam executados sem que os executores (e muito menos os mandantes do extermínio) sejam responsabilizados e punidos; quando aplaudimos um suposto “revide” a “ataques” contra o Estado, “revide” que vitimou centenas de pessoas, em geral condenadas à pena de morte sem julgamento simplesmente por serem pobres e negras; ou ainda quando poucos se levantam contra os incêndios criminosos que se multiplicam em favelas como estratégia de despejos, a serviço da especulação imobiliária.
A militarização da gestão pública, a criminalização da pobreza, o encarceramento em massa de comunidades pobres, o domínio absoluto dos Estados pelos grandes grupos econômicos: são todas políticas e processos irmanados e complementares que constituem vetores da perpetuação dos massacres que marcam nossa história.
O despejo que segue em curso na Favela do Moinho, a recém-deflagrada “operação” policial na Cracolândia e a invasão policial racista do espaço estudantil na USP pela PM são casos emblemáticos, cuja listagem infelizmente poderia ser ampliada indefinidamente.
No primeiro caso, um incêndio suspeito serve de pretexto para se realizar uma remoção há tanto tempo ensaiada de uma comunidade pobre, constituída principalmente por catadores de papel, que há pouco conseguiu usucapião do terreno localizado na região da Barra Funda (parte da cidade em que foi informalmente declarado que não se irá tolerar a existência de pobres). Como em dezenas de outros casos semelhantes, a alternativa oferecida pelo poder público aos moradores é uma bolsa-aluguel miserável e bastante limitada no tempo, o que revela a total ausência de uma política habitacional real.
No segundo caso, o da chamada Cracolândia, temos a expressão perfeita de uma questão social e de saúde pública da maior importância transformada em caso de polícia, tratada com repressão e com internação compulsória e tendo como pano de fundo a “revitalização” da região da Luz, ou seja, a valorização dos imóveis existentes e dos futuros empreendimentos imobiliários.
No caso mais recente, um estudante é agredido, ameaçado e humilhado por um policial pelo “crime” de ter sido confundido com um não-estudante, exatamente por ser negro. Uma manifestação particular, dentro da USP, de um comportamento racista que é regra cotidiana pelas periferias do país, sobretudo contra jovens pobres e negros. Apesar desse quadro terrível, essa série histórica de massacres tem provocado reações. Diversas organizações sociais estão realizando ações de denúncia, de resistência e de solidariedade, como é o caso do festival de rap Moinho Vivo que acontecerá neste Domingo (22/01), na Favela do Moinho.
A REDE 2 DE OUTUBRO adere a esses movimentos de resistência e reafirma o seu imenso repúdio a essas políticas de massacre e de higienização articuladas contra as populações mais vulneráveis e a favor dos interesses daqueles que há muito tiram seus altos lucros da exploração dessa vulnerabilidade.

REDE 2 DE OUTUBRO – PELO FIM DOS MASSACRES
http://rede2deoutubro.blogspot.com/

Hip Hop e resistência: Festival Moinho Vivo!

No dia 22/1, às 14h, acontecerá o 1º Festival Moinho Vivo, com a presença confirmada de vários nomes de peso do Hip Hop. Porém, mais que um encontro para celebrar a música que pulsa viva nas quebradas de São Paulo, o festival vem para marcar a luta de uma população marcada por um incêndio e uma implosão, bem como arrecadar roupas, remédios e alimentos para a comunidade do moinho.

Vamos apoiar e divulgar!