MEMÓRIA DE 21 ANOS DO MASSACRE DO CARANDIRU
DIA PELO FIM DOS MASSACRES
DIA PELO FIM DOS MASSACRES
Há exatos 21 anos, após uma pequena
desavença entre presidiários do pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru se
transformar em uma rebelião desprovida de viés reivindicativo ou de fuga, cerca
de três centenas de policiais militares invadiram a Cada de Detenção do
Carandiru e exterminaram, a sangue frio, ao menos 111 homens desarmados e
rendidos.
Mais de duas décadas depois, a
antiga Casa de Detenção foi implodida e, no lugar onde jovens pobres, quase
sempre negros, foram maltratados, torturados e executados durante décadas, foi erigido
o sugestivo Parque da Juventude. A edificação de um parque para a juventude
no lugar de uma unidade de aprisionamento da juventude não significou, no
entanto, qualquer alteração estrutural na política criminal do Estado.
Após todos esses anos, parte dos
policiais foi condenada, ainda de forma não definitiva, mas os mandantes do massacre, Fleury e Pedro
Campos, seguem intocáveis, como se ordenar uma carnificina fosse dever de
ofício...
Para agravar o quadro, o sistema penal que tarda a responsabilizar
os policiais envolvidos e livra os mandantes não apenas do Massacre do
Carandiru, mas também de todos os demais massacres da nossa história, é o mesmo que serve de moinho de massacrar
pobres, enviando, cotidianamente, centenas de jovens pretos e pobres para
tentarem sobreviver às condições degradantes do cárcere e aos assédios
constantes de agentes públicos, durante e após o cumprimento da pena.
Desde o Massacre do Carandiru, nos dois lados dos muros, os
massacres contra a juventude negra só fizeram crescer.
Muro adentro, a população carcerária cresceu mais de 300%
desde o Massacre do Carandiru contra aproximadamente 30% de crescimento da
população em geral. Hoje são quase 600 mil pessoas presas em celas
superlotadas, sem acesso às assistências médica, social e jurídica e sem
qualquer oportunidade de estudo ou trabalho.
O recorte racial e de classe segue evidente: mais de 60% da população
prisional é formada por pessoas negras e jovens; 90% sequer completaram o
ensino médio; cerca de 80% estão pres@s por acusação de crimes contra o
patrimônio ou por pequeno tráfico de drogas.
Soma-se ainda o massacre contra as mulheres: nas filas
de visita, a revista vexatória perdura, vergonhosamente, como prática estatal
para penalizar e humilhar familiares que viajam longas distâncias para visitar
o ente querido preso; no sistema prisional feminino, a população cresce em
proporções ainda maiores do que entre os homens, com clara criminalização
patriarcal da maternidade e da ocupação do espaço público por mulheres.
Fora dos presídios, os massacres se multiplicam pelas quebradas
e periferias.
Só para ficar entre os mais
notórios, registramos a memória dos massacres ocorridos desde o massacre do
Carandiru: Candelária e Vigário Geral (1993); Alto da Bondade (1994);
Corumbiara e Nova Brasília (1995); Eldorado dos Carajás (1996); Morro do
Turano, São Gonçalo e da Favela Naval (1997); Alhandra e Maracanã (1998);
Cavalaria e Vila Prudente (1999); Jacareí (2000); Caraguatatuba (2001);
Castelinho, Jd. Presidente Dutra e Urso Branco (2002); Amarelinho, Via Show e
Borel (2003); Unaí, Caju, Praça da Sé e Felisburgo (2004); Baixada Fluminense
(2005); Crimes de Maio (2006); Complexo do Alemão (2007); Morro da Providência
(2008); Canabrava (2009); Vitória da Conquista e os Crimes de Abril na Baixada
Santista (2010); Praia Grande (2011); Massacre do Pinheirinho, de Saramandaia,
da Aldeia Teles Pires, os Crimes de junho, julho, agosto, setembro, outubro,
novembro, dezembro (2012), Chacina do Jardim Rosana, Repressão à Revolta da
Catraca, Vila Funerária, Chacina da Maré, Itacaré, Viaduto José Alencar em BH,
Itapevi (2013)…
Conforme Mapa da Violência (2012),
no Brasil, entre 2002 e 2010, o número de homicídios de brancos caiu 25,5% ao
passo que o de negros aumentou 29,8%. A
cada 10 jovens assassinados no Brasil, 7 são negros!
Aos massacres reais somam-se os massacres estruturais:
as mesmas periferias, quebradas e favelas alvejadas por balas, porretes e
algemas são submetidas a um cotidiano de total descaso, em que falta tudo que é
necessário para viver com um pingo de dignidade. Não tem moradia, não tem saneamento,
a escola é precária, não tem posto de saúde, o transporte público é ruim e
caro, faltam creches, não há opções públicas de lazer, e por aí vai. Quem ousa se organizar contra essas mazelas
tem como resposta a violência policial e a criminalização.
Nesse dia, diante desse quadro de
terror contra as camadas populares que se reproduz por toda nossa história, relembramos
os no mínimo 111 que tombaram em 2 de outubro de 1992 e as tantas outras
pessoas violentadas pelas classes dominantes por meio do Poder Público, e
celebramos a resistência daquelas e daqueles que sobrevivem aos massacres
cotidianos e ainda encontram forças para resistir, viver e lutar.
Em tempos de ascensão das lutas populares, afirmamos a
presença daquelas e daqueles que não podem mais denunciar a violência do Estado
porque tiveram suas vidas ceifadas, e o fazemos ao lado daquelas e daqueles
que, igualmente, não podem denunciar os massacres cotidianos, mas que estão
vivos e resistem: a população carcerária, esquecida e acuada diante de um
sistema violento e letal.
A luta contra o Estado Penal-Militar é parte inseparável
das lutas populares: é da união da luta daquelas e
daqueles que sofrem na pele a violência imposta pelo Estado e pela burguesia
com todas as demais lutas da classe trabalhadora que se firmarão as condições
materiais necessárias para construirmos uma sociedade sem massacres, sem grades
e sem explorações.
Por uma vida sem massacres, somos tod@s negr@s, pres@s,
mulheres, indígenas, periféric@s, sem-teto, sem-terra, trabalhador@s!
Contra o Estado Penal-Militar, somos tod@s marginalizad@s!
Adalberto Oliveira dos Santos; Adão Luiz Ferreira de Aquino;
Adelson Pereira de Araujo; Alex Rogério de Araujo; Alexandre Nunes Machado da
Silva; Almir Jean Soares; Antonio Alves dos Santos; Antonio da Silva Souza; Antonio
Luiz Pereira; Antonio Quirino da Silva; Carlos Almirante Borges da Silva; Carlos
Antonio Silvano Santos; Carlos Cesar de Souza; Claudemir Marques; Claudio do
Nascimento da Silva; Claudio José de Carvalho; Cosmo Alberto dos Santos; Daniel
Roque Pires; Dimas Geraldo dos Santos; Douglas Edson de Brito; Edivaldo Joaquim
de Almeida; Elias Oliveira Costa; Elias Palmiciano; Emerson Marcelo de Pontes; Erivaldo
da Silva Ribeiro; Estefano Mard da Silva Prudente; Fabio Rogério dos Santos; Francisco
Antonio dos Santos; Francisco Ferreira dos Santos; Francisco Rodrigues; Genivaldo
Araujo dos Santos; Geraldo Martins Pereira; Geraldo Messias da Silva; Grimario
Valério de Albuquerque; Jarbas da Silveira Rosa; Jesuino Campos; João Carlos
Rodrigues Vasques; João Gonçalves da Silva; Jodilson Ferreira dos Santos; Jorge
Sakai; Josanias Ferreira de Lima; José Alberto Gomes Pessoa; José Bento da
Silva; José Carlos Clementino da Silva; José Carlos da Silva; José Carlos dos
Santos; José Carlos Inojosa; José Cícero Angelo dos Santos; José Cícero da
Silva; José Domingues Duarte; José Elias Miranda da Silva; José Jaime Costa e
Silva; José Jorge Vicente; José Marcolino Monteiro; José Martins Vieira
Rodrigues; José Ocelio Alves Rodrigues; José Pereira da Silva; José Ronaldo
Vilela da Silva; Josue Pedroso de Andrade; Jovemar Paulo Alves Ribeiro; Juares
dos Santos; Luiz Cesar Leite; Luiz Claudio do Carmo; Luiz Enrique Martin; Luiz
Granja da Silva Neto; Mamed da Silva; Marcelo Couto; Marcelo Ramos; Marco
Antonio Avelino Ramos; Marco Antonio Soares; Marcos Rodrigues Melo; Marcos
Sérgio Lino de Souza; Mario Felipe dos Santos; Mario Gonçalves da Silva; Mauricio
Calio; Mauro Batista Silva; Nivaldo Aparecido Marques de Souza; Nivaldo Barreto
Pinto; Nivaldo de Jesus Santos; Ocenir Paulo de Lima; Olivio Antonio Luiz Filho;
Orlando Alves Rodrigues; Osvaldino Moreira Flores; Paulo Antonio Ramos; Paulo
Cesar Moreira; Paulo Martins Silva; Paulo Reis Antunes; Paulo Roberto da Luz; Paulo
Roberto Rodrigues de Oliveira; Paulo Rogério Luiz de Oliveira; Reginaldo
Ferreira Martins; Reginaldo Judici da Silva; Roberio Azevedo da Silva; Roberto
Alves Vieira; Roberto Aparecido Nogueira; Roberto Azevedo Silva; Roberto
Rodrigues Teodoro; Rogério Piassa; Rogério Presaniuk; Ronaldo Aparecido
Gasparinio; Samuel Teixeira de Queiroz; Sandoval Batista da Silva; Sandro
Rogério Bispo; Sérgio Angelo Bonane; Tenilson Souza; Valdemir Bernardo da Silva;
Valdemir Pereira da Silva; Valmir Marques dos Santos; Valter Gonçalves Gaetano;
Vanildo Luiz; Vivaldo Virculino dos Santos...
PRESENTES!
PS. No próximo sábado (5), a partir das 13h30, no Parque da
Juventude, estaremos juntos com vários outros movimentos em ato contra o Estado
Penal-Militar e em memória aos 21 anos do Massacre do Carandiru. Convidamos a
todas e todos que lutam por uma vida desmilitarizada, descriminalizada, livre de
proprietários e de patrões, a chegarem junto nessa caminhada!
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