"CÁRCERE NÃO É LUGAR DE GENTE"
Por Piero Locatelli
Movimentos sociais e organizações ligadas a direitos humanos apresentaram na última semana uma proposta ao governo federal pedindo a diminuição do número de presos no país. Em documento entregue ao governo, eles pedem a diminuição das chamadas detenções cautelares, o fim da privatização de presídios e a desmilitarização da Polícia Militar. Entre os signatários estão Mães de Maio, Pastoral Carcerária Nacional, Instituto Práxis de Direitos Humanos e o grupo Margens Clínicas.
Os movimentos criticam o aumento no número de presos no país
e a degradação do sistema prisional. “Apesar das centenas de tipos penais
constantes da legislação, cerca de 80% da população prisional está presa por
crimes contra o patrimônio (e congêneres) ou pequeno tráfico de drogas. Apesar
da multiplicidade étnica e social da população brasileira, as pessoas
submetidas ao sistema prisional têm quase sempre a mesma cor e provêm da mesma
classe social e territórios daquelas que, historicamente, estão às margens do
processo civilizatório brasileiro: são pessoas jovens, pobres, periféricas e
pretas.”
Outra das críticas dos movimentos refere-se ao aumento da
proporção de mulheres nos presídios. “O recrudescimento da população prisional
feminina deriva da assunção por centenas de milhares de mulheres pobres (quase
sempre negras) de trabalhos precários e perigosos na cadeia de comercialização
de psicotrópicos, tornando-as principal alvo da obtusa guerra às drogas, eis
que mais expostas e vulneráveis.”
Menos cidadãos na cadeia
Entre as propostas do grupo, está a revogação do programa
nacional de apoio ao sistema penal. Criado em 2011, ele visava zerar o déficit
de vagas femininas e reduzir o número de presos em delegacias. “A superlotação
não deriva da ausência de políticas para a construção de presídios (nos últimos
20 anos, o Brasil saltou de 60 mil vagas para 306 mil vagas prisionais), mas
sim das prisões abusivas, ilegais e discriminatórias executadas contra as
pessoas mais pobres desse país e do exagerado investimento em políticas
repressivas em detrimento de políticas sociais,” diz a proposta dos movimentos.
Ao invés de um aumento no número de vagas, os movimentos propõe um pacto para
reduzir a população encarcerada no país.
Outro pedido dos movimentos é a redução das chamadas prisões
cautelares. “Apesar de vigorar no Brasil o princípio constitucional da
presunção de inocência, cerca de 43% da população prisional ainda não tem
condenação definitiva.” Eles também propõe o fim das detenções por porte de
drogas, que “traz impactos imensos ao sistema carcerário e é determinante na
construção de carreiras criminais entre jovens pobres das periferias.”
Os movimentos ainda pedem o aumento da participação da
sociedade no sistema carcerário. “Atualmente, o acesso ao cárcere é quase que
circunscrito às atividades de assistência religiosa e, de maneira completamente
precária e instável, a atividades acadêmicas e humanitárias, sempre dependentes
da autorização do Poder Executivo.”
Leia a íntegra do documento dos movimentos.
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